O sonho da Confederação Brasileira de Judô é simples: ter todos os atletas que representam o país em torneios importantes treinando com a mesma filosofia. Na prática, isso é um pouco mais difícil de implantar. Com clubes pressionando de um lado e a comissão técnica da seleção do ouro, a CBJ resolveu inovar.
A categoria ligeiro (60kg) masculino, que nos últimos anos sofreu para obter bons resultados internacionais, virou cobaia para um projeto inédito. Os três atletas que fazem parte da seleção, Felipe Kitadai, Breno Alves e Ricardo Ayres, foram destacados e obrigados a adotar a mesma rotina de treinamentos.
“Antes, eu fazia minha programação diariamente. Agora, já sei o que vou fazer todos os dias até 2012. O ritmo dos treinos aumentou bastante”, diz Kitadai. “As avaliações também ficaram mais severas. E o tempo de treinamento dobrou. É o preço que temos de pagar para buscar bons resultados”, completa Ayres.
A uniformização dos treinos, inclusive, não para nas barreiras geográficas. Ayres é carioca, mora e treina no Rio de Janeiro. Kitadai e Alves são paulistas e treinam em São Paulo. O trabalho é coordenado pela Confederação e ainda conta com parceria com o COB no projeto Ciência do Esporte. Até agora, o foco é na preparação física.
“Eles são as nossas cobaias. Estamos usando os ligeiros como um teste. Até 2012, teremos um programa pronto, com resultados para mostrar. A partir daí, poderemos ampliar isso para todos os pesos”, explica o preparador físico da seleção, Marcus Albuquerque.
Calendário unificado
Apesar de o programa completo estar restrito aos ligeiros, a CBJ já conseguiu uniformizar os ciclos de treinamento de todos os atletas. Agora, o ano dos judocas começa em maio e vai até abril do ano seguinte, sem grandes folgas em dezembro e janeiro, como era a norma.
“A partir de 2010, a seleção brasileira trabalha com um calendário diferente. A temporada começa em maio e vai até abril do ano seguinte, para abrigar o calendário internacional. Isso significa mudança nos treinos de todos os atletas em seus clubes. E nós conseguimos isso”, explica Ney Wilson, coordenador de seleções da entidade.
Para fazer isso, os judocas que fazem parte da seleção foram divididos em dois grupos, com períodos de pico de treinamento diferentes. Com o Mundial em setembro, uma turma começa a competir agora (o Grand Slam de Paris será disputado nesse fim de semana). A segunda, vai para a Europa para o Grand Slam da Rússia, em julho. Entre as duas competições, o Grand Slam do Brasil (em maio).
A adoção desse projeto, porém, teve de ser muito discutida. “Os objetivos da confederação não são os mesmo dos clubes. Essa é uma velha questão que estamos tentando minimizar. Desta vez, pelo menos, eles estavam preocupados em nos ouvir. Afinal, são os clubes que trabalham mais tempo com os atletas”, afirma Antônio Carlos Pereira, o Kiko, da Sogipa, clube do bicampeão mundial João Derly e dos integrantes da seleção brasileira Eduardo Santos, Walter Santos e Mayra Aguiar.
No Minas Tênis, outra potência do judô nacional, essa periodização diferente fez com que o trabalho aumentasse. “A linha e a proposta de trabalho não vão mudar. Só vamos mudar o trabalho de periodização. Temos cerca de 60 atletas e os seis da seleção (Luciano Correa, Nacif Elias, Hugo Pessanha, Érika Miranda, Ketleyn Quadros e Helena Romanelli) vão ter um trabalho separado. Apesar disso, é positivo que a CBJ tenha procurado os clubes, já que somos nós que trabalhamos no dia a dia. Se não tiver alinhamento de conduta, um pode atrapalhar o outro”.
UOL Esporte
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